No Projeto, Um computador por Aluno – UCA, tivemos uma atividade para postarmos no nosso blog, escolheríamos um entre cinco temas para fazermos um comentário sobre o mesmo. O meu escolhido foi “Aprendendo a Pensar”, este texto foi publicado por Stephen Kanitz pela revista Veja, 07 de agosto de 2002. Ele está disponível também no texto de apoio, localizado no item PARA SABER MAIS, na Atividade II: Questionamento no Cotidiano da Sala de Aula da nossa pasta do E-proinfo Ambiente Colaborativo.
Uma das preocupações do autor é com a maneira que o professor repassa seus conhecimentos em sala de aula, como conduzem as suas aulas, alguns não se preocupam se os alunos aprenderam ou não, como ensinar a esses jovens a pensar. E que muitos jovens poucos aprendem e ainda assim, não utilizam no seu dia-a-dia o seu aprendizado.
Devemos ensinar aos nossos alunos sim, a pensarem, a resolverem seus próprios problemas e não a pensarem como os pensadores, buscando respostas antigas, criadas principalmente por pensadores estrangeiros e esquecem de acreditarem nos poucos que aqui pensam e pesquisam a nossa realidade.
Concordo quando o autor diz que os professores devem saber que as disciplinas são conhecimentos necessários, mas, para serem utilizadas como ferramenta para solução de problemas, que ajudem a pensar, considerando que seja um meio de ensino e não objetivo.
Existem cursos que ensinam a Pensar, mas poucas escolas utilizam. São poucos os professores do nosso país treinados neste método do Estudo de Casos. Se todos pudessem ser treinados neste curso seria maravilhoso, pois, saberiam analisar problemas, teriam iniciativa a observação de dados originais e a discussão de alternativas. Portanto, seriam jovens pensantes, mas infelizmente a nossa realidade é outra.
Aqui segue o texto original. Uma boa leitura!
APRENDENDO A PENSAR
Stephen Kanitz
A maioria das aulas que tive foi expositiva. Um professor, normalmente mal pago e por isso mal humorado, falava horas a fio, andando para lá e para cá. Parecia mais preocupado em lembrar a ordem exata de suas idéias do que observar se estávamos entendendo o assunto ou não. Ensinavam as capitais do mundo, o nome dos ossos, dos elementos químicos, como calcular o ângulo de um triângulo e muitas outras informações que nunca usei na vida. Nossa obrigação era anotar o que o professor dizia e na prova final tínhamos de repetir o que havia sido dito.
A prova final de uma escola brasileira perguntava recentemente se o país ao norte do Uzbequistão era o Cazaquistão ou o Taddjiquistão. Perguntava também o número de prótons do ferro. E ai de quem não soubesse todos os afluentes do Amazonas. Aprendi poucas coisas que uso até hoje. Teriam sido mais úteis aulas de culinária , nutrição e primeiros socorros do que latim, trigonometria e teoria dos conjuntos.
Curiosamente não ensinamos nossos jovens a pensar. Gastamos horas e horas ensinando como os outros pensam ou como os outros solucionaram os problemas de sua época, mas não ensinamos nossos filhos a resolver os próprios problemas.
Ensinamos como Keynes, Kaldor e Kalecki, economistas já falecidos, acharam soluções para um mundo sem computador nem internet. De tanto ensinar como os outros pensavam, quando aparece um problema novo no Brasil buscamos respostas antigas criadas no exterior.
Nossos economistas implantaram no Brasil uma teoria americana de “inflation targeting”, como se os americanos fossem os grandes especialistas em inflação, e não nós, com os quarenta anos de experiência que temos. Deu no que está aí.
De tanto estudar o que os intelectuais estrangeiros pensam, não aprendemos a pensar. Pior, não acreditamos nos poucos brasileiros que pensam e pesquisam a realidade brasileira nem os ouvimos.
Especialmente se eles ainda estiverem vivos. É sandice acreditar que intelectuais já mortos, que pensaram e resolveram os problemas de sua época, solucionarão problemas de hoje, que nem sequer imaginaram.
Raramente ensinamos os nossos filhos a resolver problemas, a não ser algumas questões de matemática, que normalmente devem ser respondidas exatamente da forma e na seqüência que o professor quer.
Matemática, estatística, exposição de idéias e português obviamente são conhecimentos necessários, mas eu classificaria essas matérias como ferramentas para a solução de problemas, ferramentas que ajudam a pensar. Ou seja, elas são um meio, e não o objetivo do ensino. Considerar que o aluno está formado, simplesmente por ele ter sido capaz de repetir os feitos intelectuais das velhas gerações, é fugir da realidade.
Num mundo em que se fala de “mudanças constantes”, em que “nada será o mesmo”, em que o volume de informações “dobra a cada dezoito meses”, fica óbvio que ensinar fatos e teorias do passado se torna inútil e até contraproducente. No dia em que os alunos se formarem, mais de dois terços do que aprenderam estarão obsoletos (caído em desuso; arcaico; antiquado). Sempre teremos problemas novos pela frente. Como iremos enfrentá-los depois de formados? Isso ninguém ensina.
Existem dezenas de cursos revolucionários que ensinam a pensar, mas que poucas escolas estão utilizando. São cursos que analisam problemas, incentivam a observação de dados originais e a discussão de alternativas, mas são poucas as escolas ou os professores no Brasil treinados nesse método do estudo de caso.
Talvez por isso o Brasil não resolva seus inúmeros problemas. Talvez por isso estejamos acumulando problema após problema sem conseguir achar uma solução.
Na próxima vez em que seu professor começar a andar de um lado para o outro, pense no que você está perdendo. Poderia estar aprendendo a pensar.
Stephen Kanitz é administrador
Revista VEJA, 07 de agosto de 2002
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